quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Intolerância


A pena mudou, mas a conseqüência é mesma, por isso não devemos pôr uma pedra no assunto.

O caso Sakineh Mohammadi Ashtiani

Irã adia decisão sobre sentença de Sakineh pela terceira vez, diz site Segundo ativistas, Teerã cancelou audiência por acreditar que atenção mundial ao caso diminuirá.

SÃO PAULO- O sistema judiciário do Irã adiou nesta quarta-feira, 25, pela terceira vez uma audiência para decidir a sentença de Sakineh Mohammadi Ashtiani, mulher de 43 anos inicialmente condenada a apedrejamento por adultério e agora acusada pela morte de seu marido. As informações são do portal de notícias Fox News.

Segundo a Missão Free Iran, citada pelo site, Sakineh tinha uma audiência marcada para hoje, que foi cancelada pelo tribunal. De acordo com Maria Rohaly, ativista da organização, o governo iraniano continua adiando a decisão com esperanças de que a atenção da comunidade internacional ao caso acabe. Sakineh foi condenada em 2006 por manter relações ilícitas com dois homens após ficar viúva, o que, segundo a lei islâmica, também é considerado adultério. Primeiramente a pena foi de 99 chibatadas, depois convertida em morte por apedrejamento e, posteriormente, alterada para enforcamento. Em julho deste ano, seu advogado Mohammad Mostafaei tornou público o caso em um blog na internet, o que chamou a atenção da comunidade internacional. Perseguido pelas autoridades iranianas, ele fugiu para a Turquia, de onde buscou asilo político na Noruega. O governo brasileiro ofereceu refúgio a Sakineh, o que foi rejeitado por Teerã. A pena de morte foi mantida por um tribunal de apelações, que acrescentou ao caso a acusação de conspiração para a morte do marido. A iraniana continua presa em Tabriz.

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09/08/2010 - 22h30

Iraniana condenada à morte não deve ser apedrejada, informa site norueguês

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DE SÃO PAULO
A embaixada iraniana em Oslo, na Noruega, disse ter mantido contato com o governo do Irã e afirmou que Sakineh Mohammadi Ashtiani não deve ser apedrejada até a morte, mas pode ser enforcada, informa o tabloide norueguês "Dagbladet" em sua página na internet.
O chefe da embaixada, Mohammad Javad Hosseini, disse que apedrejamentos são muito raros de acontecer no Irã, segundo o jornal.
AP
A iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani; advogado diz acreditar que Teerã concederá anistia
A iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani; advogado diz acreditar que Teerã concederá anistia
Mãe de dois filhos, a iraniana foi condenada em maio de 2006 a receber 99 chibatadas por ter um "relacionamento ilícito" com um homem acusado de assassinar o marido dela. Sua defesa diz que Sakineh era agredida pelo marido e não vivia como uma mulher casada havia dois anos, quando houve o homicídio.
Mesmo assim, Sakineh foi, paralelamente à primeira ação, julgada e condenada por adultério. Ela chegou a recorrer da sentença, mas um conselho de juízes a ratificou, ainda que em votação apertada --3 votos a 2.
Os juízes favoráveis à condenação de Sakineh à morte por apedrejamento votaram com base em uma polêmica figura do sistema jurídico do Irã chamada de "conhecimento do juiz", que dispensa a avaliação de provas e testemunhas.
Assassinato, estupro, adultério, assalto à mão armada, apostasia e tráfico de drogas são crimes passíveis de pena de morte pela lei sharia do Irã, em vigor desde a revolução islâmica de 1979.
Um abaixo-assinado online lançado há dois meses devolveu o caso ao centro das atenções. Em julho passado, pressionada, a Embaixada do Irã em Londres afirmou que Sakineh não seria morta por apedrejamento --sem, no entanto, descartar que ela fosse morta, porém por outro método, provavelmente o enforcamento.
Dias depois, o chefe do Judiciário da Província de Azerbaijão do Leste, Malek Ezhder Sharifi, responsável pelo caso, foi a público afirmar que não só considerava a sentença ao apedrejamento válida como passível de aplicação instantânea. Disse ainda que essa pena estava relacionada não só ao adultério mas também à acusação de Sakineh de coautoria no assassinato do marido. 

  * Meu repudio a preconceitos, radicalismo,       falta de amor e perdão da humanidade.

 
2 crônicas 7- 14, 15 , 16.
E se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra.
Agora estarão abertos os meus olhos e atentos os meus ouvidos à oração deste lugar.
Porque agora escolhi e santifiquei esta casa, para que o meu nome esteja nela perpetuamente; e nela estarão fixos os meus olhos e o meu coração todos os dias.

♥ ♥ ♥

segunda-feira, 23 de agosto de 2010


Um caso a se pensar 

Venho através desta pedir que parem de despejar suas ações torpes sobre um mundo carente de amor, sobre uma natureza carente e judiada por nossas mãos impiedosas.

Gostaria que despertassem os seus interesses para os diversos meios individuais de preservação do meio natural. 
Assim como também, que compreendessem que estamos aqui com propósitos de vida diferentes, mas reunidos por um único sentimento.
O amor é o único sentimento capaz de nos tornar mais humanos e dispostos a cuidar do nosso meio. 
O pontapé inicial é dado, quando compreendemos que a humanidade é uma família, que tem como lar o planeta terra. Planeta tal que ao invés de cuidarmos, estamos poluindo e destruindo.
Somos culpados, também quando vemos a destruição e nos calamos, também quando colhemos e não plantamos, também quando só matamos e violentamos. 
Não somos melhores do que os animais, n'alguns casos, somos indigno deles.
Temos o dom do raciocínio, mas ainda precisamos quebrar nossos espelhos.
É triste saber que estamos voltados para a nossa própria imagem, saber que só enxergamos o que está visível aos olhos, que deixamos de lado os nossos sentimentos para viver uma vida de aparências.
A vida de ilusão que se apresenta a cada dia, nos distancia ainda mais de alcançar a sabedoria, o conhecimento de nossa natureza. 
Parecemos burros de viseira, seguindo com nossos egos inflamados através dos tempos, sem dar importância ao nosso rastro de destruição.
Contudo, ainda há tempo de recomeçarmos. 
Sim, recomeçarmos, ainda que individualmente. Se cada um se disponibilizar a fazer sua parte, terão um mundo melhor para seus filhos, netos, etc.
Não desistam de seu planeta, não desistam de melhorar suas vidas, não desistam de amar acima de tudo e principalmente, parem de alimentar os seus egos ou a destruição alcançará vocês.
Venho através desta pedir que parem de despejar suas ações torpes sobre um mundo carente de amor, sobre uma natureza carente e judiada por nossas mãos impiedosas. 
Gostaria que despertassem os seus interesses para os diversos meios individuais de preservação do meio natural. 
Assim como também, que compreendessem que estamos aqui com propósitos de vida diferentes, mas reunidos por um único sentimento.
O amor é o único sentimento capaz de nos tornar mais humanos e dispostos a cuidar do nosso meio. O pontapé inicial é dado, quando compreendemos que a humanidade é uma família, que tem como lar o planeta terra. Planeta tal que ao invés de cuidarmos, estamos poluindo e destruindo. 
Somos culpados, também quando vemos a destruição e nos calamos, também quando colhemos e não plantamos, também quando só matamos e violentamos. 
Não somos melhores do que os animais, n'alguns casos, somos indigno deles. 
Temos o dom do raciocínio, mas ainda precisamos quebrar nossos espelhos. É triste saber que estamos voltados para a nossa própria imagem, saber que só enxergamos o que está visível aos olhos, que deixamos de lado os nossos sentimentos para viver uma vida de aparências. 
A vida de ilusão que se apresenta a cada dia, nos distancia ainda mais de alcançar a sabedoria, o conhecimento de nossa natureza.
Parecemos burros de viseira, seguindo com nossos egos inflamados através dos tempos, sem dar importância ao nosso rastro de destruição. 
Contudo, ainda há tempo de recomeçarmos.
Sim, recomeçarmos, ainda que individualmente. Se cada um se disponibilizar a fazer sua parte, terão um mundo melhor para seus filhos, netos, etc. 
Não desistam de seu planeta, não desistam de melhorar suas vidas,
não desistam de amar acima de tudo e principalmente, 
parem de alimentar os seus egos ou a destruição alcançará vocês.


 Um carinho da amiga Valéria 
   link    CIO DA LUA




A mãe terra pari vida conserve-a 
seus descendentes te agradecerão
uma reflexão pra um fim de noite
e consciência prum amanhecer. 
♥♥♥

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Aprenda a Voar Com as Águias

As atitudes da águia durante o vôo podem ser aplicadas em nossa própria vida! “Deus dá força aos cansados e vigor aos fracos e desanimados. Até os jovens se cansam, até  os moços perdem as forças e caem de tanto cansaço, mas os que esperam no Senhor sempre renovam suas energias. Caminham e não perdem as forças. Correm e não se cansam, sobem voando como águias”.
  • Meta – Saber exatamente o que se deseja alcançar
  • Estratégia – Definir a forma de atingir os objetivos.
  • Visão de longo alcance – Enxergar de longe o objetivo e os obstáculos.
  • Foco – Escolher exatamente um alvo.
  • Planejamento - Planejar o modo de chegar ao seu objetivo.
  • Preparação – Estar apto para a ação.
  • Concentração – Não se dispersar no momento de agir.
  • Paciência – Aguardar a hora certa.
  • Senso de oportunidade – Perceber o momento certo.
  • Agilidade – Agir com desembaraço, leveza e vivacidade.
  • Velocidade – Movimentar se com rapidez.
  • Preparo físico – Manter se em boa forma.
  • Força – Ter energia para enfrentar os momentos decisivos.
  • Técnica – Ter capacidade de atingir o objetivo com precisão.
  • Confiança – Acreditar em sua capacidade.
  • Determinação – Tentar de novo, caso a investida não dê certo.
  • Fator surpresa – Surpreender o alvo.
  • Ousadia – Aventurar se, sem medo de se expor.
  • Segurança – Viver e trabalhar de forma segura.
  • Responsabilidade – Cuidar da prole até que cada um saiba voar e se manter.
Nós temos muito dos atributos das águias.
Tenho certeza de que a lista acima nos permite vislumbrar a possibilidade de fazer vôos maiores do que temos feitos em nossa vida.
Se estivermos sintonizados com o entusiasmo e com a energia criadora, nós temos o poder de superar qualquer obstáculo para atingir o nosso ideal de vida.
Fonte: O livro Voando como a Águia: Prof. Gretz

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Estimados e queridos amigos, hoje trago-vos aqui um poema que correu mundo, diz-se que o autor é português, mas não consegui confirmar, pelo que aqui fica registado como sendo desconhecido. O que parece ser certo é que correu mundo, numa campanha televisiva, contra a violência sobre crianças, não tendo passado em Portugal, vamos lá a saber porquê!

Segundo Mariana Perosi, da Univerisdade Estadual de Campinas, a violência contra crianças acontece nos mais variados estratos sociais, as agressões sofridas, sejam de ordem moral, física ou sexual, acontecem transversalmente em toda a sociedade e nos ambientes mais diversos, desde acções de "disciplina" de escolas ou instituições de acolhimento,prespassando a família, assédio moral (intimidação e discriminação por parte dos próprios colegas e até professores), abusos em casa, de ordem física, psíquica e/ou sexual. As conseqüências na formação e na vida futura dessas crianças, a perda de autoestima, falta de perspectivas e traumas profundos, são objecto de muitas pesquisas e trabalhos académicos.
Todas essas atitudes desumanas fazem parte do quotidiano de milhões de crianças, sejam elas ricas ou pobres. "O que se verifica é que, frequentemente, se associa pobreza e maus tratos, atribuindo à condição de baixa renda acções de negligência e violência. Na realidade, famílias pobres encontram-se mais vulneráveis à denuncia, o que não significa que casos de maus-tratos sejam exclusivos desse estrato social; a questão é que, em famílias de classe média e alta é ocultado". Para a pesquisadora Zélia Maria Mendes Biasoli Alves, do Departamento de Psicologia e Educação da USP de Ribeirão Preto, em qualquer classe social a vergonha e o medo, tanto das crianças como de seus pais - no caso de o agressor ser um conjuge, parente, empregador, policial ou um líder comunitário - são fatores que ajudam a camuflar o problema."

É um flagelo do qual também fui vítima em criança, sei bem o que é sentir essa violência,o sofrimento psicológico que aínda me acompanha, quando me lembro desses momentos de terror, infligidos por quem me deveria amar. O sentimento de revolta sempre que surgem notícias de crianças vítimas da crueldade dos adultos, familiares ou não.

Por tudo isso, e para despertar consciências aqui passo este vídeo e este poema com um apelo, denuncie os abusadores sempre que tenha conhecimento de crianças mal tratadas, vítimas de violência física, psíquica , sexual ou outra. Não fique calado, não seja cumplice de um silêncio consentido. 


O meu nome é ''Sara''
Tenho 3 anos
Os meus olhos estão inchados,
Não consigo ver.

Eu devo ser estúpida,
Eu devo ser má,
O que mais poderia pôr o meu pai em tal estado?

Eu gostaria de ser melhor,
Gostaria de ser menos feia.
Então, talvez a minha mãe me viesse sempre dar miminhos.

Eu não posso falar,
Eu não posso fazer asneiras,
Senão fico trancada todo o dia.

Quando eu acordo estou sozinha,
A casa está escura,
Os meus pais não estão em casa.

Quando a minha mãe chega,
Eu tento ser amável,
Senão eu talvez levaria
Uma chicotada à noite.

Não faças barulho!
Acabo de ouvir um carro,
O meu pai chega do bar do Carlos.

Ouço-o dizer palavrões.
Ele chama-me.
Eu aperto-me contra o muro.

Tento-me esconder dos seus olhos demoníacos.
Tenho tanto medo agora,
Começo a chorar.

Ele encontra-me a chorar,
Ele atira-me com palavras más,
Ele diz que a culpa é minha, que ele sofra no trabalho.

Ele esbofeteia-me e bate-me,
E berra comigo ainda mais,
Eu liberto-me finalmente e corro até à porta.

Ele já a trancou.
Eu enrolo-me toda em bola,
Ele agarra em mim e lança-me contra o muro.

Eu caio no chão com os meus ossos quase partidos,
E o meu dia continua com horríveis
palavras...

'Eu lamento muito!', eu grito
Mas já é tarde de mais
O seu rosto tornou-se num ódio inimaginável.

O mal e as feridas mais e mais,
'Meu Deus por favor, tenha piedade!
Faz com que isto acabe por favor!'

E finalmente ele pára, e vai para a porta,
Enquanto eu fico deitada,
Imóvel no chão.

O meu nome é 'Sara'
Tenho 3 anos,
Esta noite o meu pai *matou-me*.





Publicada por Saozita
NO BLOG- NO LIVRO DA VIDA

http://pralemdafachada.blogspot.com/
 ♥♥♥
 
 
 Nota,
  aqui deixo meu repudio
e desprezo por toda agressão feita
 a crianças jovens adultos ou idosos.
Seja ela física, moral ou psicológica.
Lembro ainda que toda semente plantada, 
seja boa ou má, dará frutos em sua época,
conforme sua espécie.
abraços Valquiria Calado.



quarta-feira, 11 de agosto de 2010

      


Merdock era um cão singular
e deu origem, em Faro, a uma extraordinária
manifestação de solidariedade que culminou na sua libertação.
Aqui se relembramos factos e as personagens envolvidas.
                                                                                                                                                                            

Blog O cão Merdock.



Diziam uns moços que às vezes apareciam junto ao Liceu, que o Merdock era seu conterrâneo. Segundo eles, o cachorro teria sido nascido e criado nas Campinas, filho de mãe perdigueira e pai incógnito, provavelmente rafeiro – a avaliar pelas características físicas que o filho patenteava.
Foi a progenitora quem lhe ministrou a instrução primária, as primeiras letras, por assim dizer. Extremosa mãe, como todas as mães, ensinou-o a coçar-se e a ganir, a estar sempre atento e a esquivar-se, a ronar e a latir (mais tarde, a ladrar, mas só quando fosse necessário…) e a caçar.
A tenra infância do canito foi igual à de tantos outros – sem grandes sobressaltos, nem grandes mistérios. Apenas o que a Mãe Natureza vai trazendo todos os dias, aos jovens. Conheceu os animais domésticos e os répteis, aprendeu a distinguir os insectos inócuos, dos irritantes, maçadores, e invejou os pássaros. Várias tentativas fez para alcançá-los, procurando erguer-se nos ares, até ao céu que não entendia bem, tanto alegre e fagueiro, quanto brumoso e triste.
Ainda muito novo, se viu confrontado com a fatalidade da despedida, apercebendo-se de que todos os irmãos tinham partido para outros lugares, outras vidas, outras lides.
E ficou só, com a mãe. Não percebeu porquê, mas – aventamos nós –, talvez o camponês seu patrão, desde logo tivesse visto nele o melhor sucessor para a cadela, já a caminho da irredutível velhice.
Um dia, já crescidote, aventurou-se por uma estrada por onde via seguirem carros de besta, gente montada em mulas ou burros, ou a pé, e que sempre reapareciam pelo mesmo caminho poeirento e cheio de pedras, algum tempo depois. Onde iam? E o que é que lá iam buscar, ou fazer?
Andou um bom bocado, até ver desaparecer o monte onde nascera. E embora com algum temor pelo singular percurso, que lhe trazia curiosas mudanças ao habitual dos dias, continuou a sua caminhada. Não sabia por onde ia, muito menos para onde ia. Mas havia qualquer coisa secreta que o fazia avançar, à descoberta de não sabia quê.
O fim de muito caminhar, chegou às portas da cidade.
.
Chegara à cidade, quase sem o saber, apenas na ânsia de desvendar um caminho novo, por onde nunca fora; e com que nunca ao menos ousara sonhar. Entrara no desconhecido. E pensou, de tudo quanto via, que talvez aí viesse a ter uma vida mais desenfastiante do que a que sabia lhe estar destinada, no monte onde nascera. A velha mãe mostrava-se cansada, seria ele a tomar o seu lugar, quando ela não prestasse para nada.
Não é que se sentisse subalternizado, ou menosprezado. Sentia-lhe ainda o mesmo afecto, de quando o despertara as primeiras realidades da vida. Mas antevia um futuro igual ao dela, sem mistério e sem glória, sempre igual, pelos dias e pelas noites.
A única coisa que sempre o transcendia em alegria e emoção, eram os dias caça. Aí sentia a plenitude da existência, uma razão forte para a vida, um inexcedível júbilo.
Mas, infelizmente, esses dias de euforia e alvoroço eram poucos, cada vez mais raros, à medida que o patrão, ele próprio, caminhava também, como a mãe, para a decrepitude.
Por isso se aventurara a ver se via como seriam outros lugares e outras gentes, porventura outras balbúrdias ainda mais avassaladoras do que os dias de caça, com a mãe e o dono, por montes e vales.
No entanto, às portas da cidade, pensou que não teria condições para ficar por ali. De resto, não conhecia ninguém e, na verdade, dos que por ali andavam, nenhum lhe prestou a mínima atenção.
Ia voltar para trás, pelo mesmo caminho por onde viera, quando, de repente, começou a ouvir qualquer coisa, uns sons que nunca tinha ouvido, vindos duma rua lateral. Instintivamente dobrou a esquina e deu com um rapaz a esfregar os beiços por uma espécie de tubo, donde pareciam sair aqueles sons. Sentiu-se maravilhado. Tudo quanto até ali ouvira, eram os assobios do vento, o estrepitar das águas pela levada que vinha do tanque, o rumorejar das árvores, o cacarejar monótono das galinhas ou de algum pintassilgo trinando no silvedo, ou nas romãzeiras.
O rapaz tocava uma música dolente, eivada de entoações profundas, com requebros de emoção e afecto. Era um fado do Carlos Ramos, muito em voga, nesses tempos:

...
Não venhas tarde...diz-me ela com carinho

Sentiu-se quase entristecer, o coração a bater de emoção. Mas também sentia os olhos a se revigorarem de alvoroço e agitação. Como era diferente, a vida, naqueles lugares!
Foi então que o rapaz se pôs a soprar uns sons muito diferentes, joviais, prazenteiros, que lhe davam vontade de os repetir com ele, e com ele comungar da mesma alegria.

...
Cantiga da rua
...nem minha nem tua
...não é de ninguém…

As dúvidas dissiparam-se-lhe.
Talvez assim, pudesse alcançar os pássaros e voar com eles, pelos céus.

Decidiu ficar.



Postado em maio de 2007, por Vieira Calado  
***

Para saber mais desta linda história visite: 
http://merdock-litoral.blogspot.com/ 



segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A entrevista possível



Um dia destes foi-me proposto o desafio: entrevistar Fernando Pessoa.
Não mais do que 25 linhas.

"Entrevista a Fernando Pessoa

Anos 30 do século passado.
Ao fim de dois dias a trabalhar no jornal, foi-lhe destinado entrevistar Fernando Pessoa.
O pouco que lera dele (que não gostara) não augurava qualquer entrevista interessante.
Agastado e sem a mínima vontade de se encontrar com ele, não teve outra alternativa se não tentar formalizar a entrevista.
Encontrou-o à saída da Ginginha, no Rossio, eram 21h30m.
- Boa noite Sr. Fernando Pessoa, posso entrevistá-lo?
- Depende.
- É o meu trabalho e mandaram-me entrevistá-lo para o Jornal que sai às terceiras quintas feiras na zona do Estoril.
- E preparaste as perguntas, rapaz?
- Não. Não preparei.
- Queres que te diga porque o poeta é um fingidor?
- Não. Todos nós sabemos isso.
- Que te fale da minha infância? Da minha vida como tradutor de correspondência comercial?
- Não, Sr. Fernando Pessoa. Quero só que me responda porque é que a Poesia se opõe à própria Poesia?
- Para isso, rapaz, terás que me ler – no futuro – com afinco e obterás a resposta. Como já cá não estarei e tu tens que entregar esta entrevista no jornal, limita-te a dizer :hoje, Fernando Pessoa, não estava com vontade de responder a perguntas."
 ***
Do blog
AS MINHAS ROMÃS